Violência Verbal na Infância
A violência verbal já afeta dois a cada três brasileiros adultos que, mesmo sem perceber, repetem esse comportamento com os filhos

Quando falamos de violência, quase sempre, associamos a uma relação aonde ocorrem agressões físicas nas quais um indivíduo – autor da agressão – de maneira proposital busca se impor fisicamente sobre uma outra pessoa. Porém, em muitos casos, essa relação de abuso pode acontecer simplesmente por meio de maus-tratos psicológicos e os danos emocionais, principalmente quando falamos de violência verbal infantil, podem ser tão graves quanto.

É por isso que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Arts. 5º, 17; 18; 18-A, parágrafo único, inciso II; 70-A e 232 da Lei nº 8.069/90, assim como a Lei nº 13.185/2015 que criou o Programa de Combate à Intimidação Sistemática tratam diretamente desse tema.

O que é violência verbal?

Psicólogos definem a violência e o abuso verbal como um comportamento agressivo, constante ou intercalado, que tem como característica o uso de palavras danosas que possuem o objetivo humilhar, manipular, ridicularizar ou ameaçar uma pessoa causando danos psicológicos brutais – muitas vezes irreparáveis – que podem passar despercebidas pela própria vítima.

Nem sempre percebemos as agressões verbais

Hoje a violência verbal é a forma mais comum de abuso contra crianças e o mais grave é que muitas vezes os pais não se dão conta do quanto isso afeta os pequenos causando traumas emocionais que são carregados pelo resto da vida.

As agressões podem variar das mais graves como o uso de xingamentos, palavras ofensivas e o bullying como forma de “controlar” as crianças, até atitudes mais sutis que, num primeiro momento, podem passar despercebidas, como desprezo, à subestimação e o abandono emocional.

Para se ter uma ideia de como isso pode afetar para sempre a vida de uma pessoa, uma pesquisa coordenada pelo psiquiatra Diogo Lara e divulgada pela PUC do Rio Grande do Sul conclui que apenas 10% das pessoas que sofreram com abusos e violência verbal na infância atualmente se consideram emocionalmente saudáveis

Dos quase 11 mil participantes ouvidos na pesquisa, 60% relataram ter sofrido com abusos ou violência verbal na infância. Desse total, 30% percebem hoje que essas ações impactam negativamente em aspectos da sua vida adulta como autoestima e otimismo, ansiedade, capacidade de revolver problemas e raiva, enquanto 20% afirmam que isso influencia na sua impulsividade.

Violência Verbal passiva

Apesar de ser mais sutil, também pode machucar e gerar traumas neuropsicológicos que as crianças podem carregar pelo resto da vida. Esse tipo de abuso é caracterizado por demonstrações de indiferença, desinteresse ou falta de amor.                                                                                                          

Violência Verbal Ativa

É um tipo de abuso mais agressivo caracterizado pela falta de respeito, insultos, exigências excessivas e a falta de compreensão que podem ser enfatizadas pelo uso de termos negativos como:

 “Você é burro! Não entende o que estou explicando?;

“Você já é grande, já cansei de você”;

“Para que serve a sua cabeça, parece que você pensa com os pés”;

“Você é tão idiota quanto seu pai/mãe”;

“Estou cansado de dizer as mesmas coisas o tempo todo”;

“Você não serve para nada”;

“Você vai ver quando chegarmos em casa”; entre outros.

Hoje, mesmo que abusar verbalmente de uma criança seja considerado uma violação da lei nos 195 países que fazem parte da ONU e que, felizmente, as formas de educar sejam muito diferentes de algumas décadas atrás, o Brasil ainda vive uma realidade na qual dois a cada três adultos passaram por algum tipo de trauma derivado de abusos verbais sofridos durante a infância e que por isso, mesmo sem perceber, reproduzem alguns desses comportamentos com seus filhos.

Então cabe a nossa geração mudar essa realidade contribuindo para que nossas crianças cresçam de forma saudável física e mentalmente sem carregar os traumas que hoje influenciam diretamente no modo de vida de tantos adultos.

Por fim, se você é vítima ou conhece alguma criança ou adolescente que sofre abusos físicos ou verbais denuncie nos seguintes canais:

Disque 100

Esse é um serviço disponibilizado pelo Governo Federal que funciona 24 horas (incluindo sábados e domingos) e que recebe, analisa e encaminha diferentes denúncias de abusos e violações dos direitos humanos.

Aplicativo Proteja Brasil

Disponível para Androide e IOS, esse é um app gratuito que possibilita qualquer pessoa realizar uma denúncia de abusos contra criança e adolescentes. Além de possibilitar a realização de denúncias diretamente pelo aplicativo, o Proteja Brasil também mostra a localização dos principais órgãos de proteção infantil nas principais capitais do país.

Por fim, o app também recebe denúncias de crimes na internet, de violações relacionadas a outras populações em situação vulnerável e de locais sem acessibilidade encaminhando os contatos para a central do disque 100.

Ouvidoria Online

Outro serviço virtual que recebe denúncias de maus-tratos contra crianças e jovens. Nele o usuário preenche um formulário online para realizar sua denúncia e depois pode acompanha-la através do disque 100.

Já para denunciar e/ou buscar por acolhimento de forma presencial é possível procurar os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) assim como os Centros Especializados de Assistência Social (CREAS) que acolhem pessoas que tiveram seus direitos violados ou estão em situações de risco, além dos Conselhos Tutelares e do Ministério Público.

Marco conceitual da violência contra crianças e adolescentes

LEIA TAMBÉM:

COMO TRABALHAR A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL DO SEU FILHO?

COMO PASSAR UM TEMPO DE QUALIDADE COM MEUS FILHOS?

A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO DA CRIANÇA COM A ESCOLA

ESTIMULE O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM DO SEU FILHO